A canoa baleeira dos Açores e da Ilha de Santa Catarina

Autor: Joel Pacheco
Idioma(s): Português
Tipo(s) de artigo: Cientifico
Tema(s): Património Material e Imaterial
Sub-Tema(s): Artes. oficios artesanais, economia, turismo e preservação cultural
Referência: Florianópolis, Brasil

A minha história com a baleeira. Em certa fase da minha infância, morei ao lado Forte Santana embaixo da ponte Hercílio Luz e passei alguns anos brincando nas cercanias do Forte, Forno do Lixo, Rita Maria e no terreno do Estaleiro Arataca. Brinquei muito na praiazinha ao lado do Forte, verdadeiro sítio arqueológico, onde há muita história para ser contada, pesquisada e que merece ser preservado e estudado rapidamente sob pena de desaparecer. Muitas vezes sentado na praia, eu construía barquinhos com restos de madeira, onde a vela era feita com alguma pena de aves, o leme e a bolina com cacos de louça, cerâmica ou conchas, todas encontradas na areia. Soltava o novo brinquedo na água e observava por alguns minutos, até ele desaparecer do alcance da vista, levado pela correnteza e pelo vento. Era uma sensação muito gostosa e prazerosa de ver o meu invento se tornar realidade e ganhar movimento. Outro tipo de barquinho mais refinado era feito com a lata de óleo de cozinha ou lata de leite em pó. Abria-se a lata com uma faca de tal modo que a mesma resultasse numa chapa plana. Realizavam-se algumas dobraduras na chapa com batidas de martelo ou de pedra, para formar o barco, imitando geralmente uma baleeira ou uma canoa, tais quais as embarcações que existiam nos ranchos próximos da minha casa. Este brinquedo era mais elaborado e demoravam-se alguns dias para concluí-lo. Quando a tarefa estava pronta, era uma festa. Uma festa, geralmente solitária. Esse brinquedo era mais durável e periodicamente recebia reparos e modificações, com ajustes para melhorar a sua navegabilidade. O carinho, o afeto e admiração pela ponte Hercílio Luz e o Forte Santana fazem parte da minha vida e, com freqüência, visito o local onde morei. Ainda brinco infantilmente de peixe-rei, entro no Forte com devoção, vasculho a areia da praia em busca de recordações, converso com pescadores sobre as pescarias e suas embarcações e, num gesto suave, clico respeitosamente minha máquina fotográfica, em busca de ângulos ingênuos e de imagens despretensiosas da mesma paisagem da minha infância. Outra passagem que me remete à baleeira é a época em que participei como atleta remador no Clube Náutico Francisco Martinelli, incentivado pelo meu tio Nilton. Naquela ocasião, algumas regatas eram acompanhadas por baleeiras com membros da comissão organizadora que auxiliavam as competições. Essa embarcação é conhecida nos Açores por canoa baleeira ou bote baleeiro e foi o principal equipamento utilizado na árdua caça do cachalote pelos açorianos. Já na Ilha de Santa Catarina é conhecida como baleeira e foi usada pelos catarinenses na caça da baleia franca. Também foi denominada de lancha, após a introdução do motor, onde continua sendo utilizada em passeios e na pesca artesanal. Busco a divulgação de nossos museus, como o Museu Nacional do Mar e o Museu da Baleia de Imbituba em Santa Catarina, o Museu dos Baleeiros e o Museu da Indústria Baleeira nos Açores, além da propagação da preservação através da educação ambiental, baseada no turismo de observação de baleias - "whale watching", fato que já vem se desenvolvendo com harmonia, tanto no litoral catarinense como no açoriano. A intenção principal desse livro é chamar atenção para esta construção naval que está em declínio e tende a desaparecer rapidamente por falta de construtores e dificuldade de transmissão desta técnica. Devemos fazer todos os esforços para que esta tradição seja passada para as gerações futuras. Quero despertar o interesse pela preservação de uma identidade cultural proveniente dos Açores, mostrar as particularidades dessas embarcações e contribuir para semear a conscientização sobre nossos bens culturais, além de mostrar o nosso reconhecimento e a nossa homenagem à gente açoriana, da qual tenho descendência e que ajudou a formar a base da cultura florianopolitana. O autor - verão de 2006.


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